Categories: Noticias Ambientales
      Date: Ago 13, 2018
     Title: Poluição do ar: soluções dependem de políticas públicas
Marcel Hartmann Por MARCEL HARTMANN
Poluição do ar: soluções dependem de políticas públicas Mateus Bruxel/Agencia RBS
Foto: Mateus Bruxel / Agencia RBS


Segundo levantamento divulgado em maio pela Organização Mundial da Saúde (OMS), nove em cada 10 pessoas no mundo respiram ar poluído. No Brasil, ele é responsável pela morte de 50 mil pessoas a cada ano, por causar doenças como câncer de pulmão, ataque cardíaco e derrame cerebral.

Mas há soluções para conter os efeitos da atividade humana na atmosfera. Individualmente, você colabora ao deixar o carro na garagem em prol do ônibus e da bicicleta, checar se o filtro de ar do seu veículo está funcionando bem, usar fogões e combustíveis limpos, reduzir o lixo doméstico e reciclá-lo. Na hora do esporte, evite correr em ruas com grande fluxo de veículos. Durante a atividade física, o volume de ar inalado é maior, então a exposição ao ambiente poluído também é mais alta.

– Seria preciso aferir, mas é perceptível que em uma região como a Beira-Mar Norte, em Florianópolis, em um momento de pico do tráfego, a pessoa pode perder os benefícios da atividade física em função da exposição aos poluentes. – destaca o pneumologista Roger Pirath Rodrigues.

Mas a saída de maior relevância depende de políticas públicas, algo em que vamos mal. Enquanto no exterior o incentivo é para melhorar transporte público e ciclovias, por aqui o assunto mobiliza pouco.

É sintomático que SC não tenha, por exemplo, um Plano de Controle de Poluição Veicular (PCPV). No ano passado, a Justiça Federal condenou o Estado a elaborar o plano, depois de uma ação movida pelo Ministério Público Federal, e o Estado recorreu pela segunda vez da decisão.

– É preciso que as evidências sobre os riscos e efeitos na saúde já reconhecidos estejam na pauta das demais políticas públicas, como as de meio ambiente, mobilidade urbana, transportes, indústria e comércio ou de agricultura. Isso deve ser feito por meio de legislações que estabeleçam os níveis permitidos, que tenham bons sistemas de monitoramento e vigilância e que desenvolvam ações locais para redução das fontes de poluição, como a melhoria do transporte público, a qualidade dos combustíveis e dos motores dos carros, a fiscalização das fontes fixas e das queimadas – diz Katia de Pinho Campos, da OMS no Brasil.

Falta de fiscalização é evidente

A fiscalização brasileira, em específico, é um problema básico: acompanhamos muito mal a poluição do ar, o que dificulta a elaboração de políticas adequadas – como investir em mudanças sem ter real dimensão do problema?

Leonardo Hoinaski, supervisor do Laboratório de Controle da Qualidade do Ar da UFSC, observa esta ausência:

– Pouco se sabe sobre a qualidade do ar de Santa Catarina até o momento. Existem iniciativas pontuais, de cunho científico, e os levantamentos da indústrias, que não são divulgados.

Os Estados vizinhos, mesmo longe do ideal, estão melhores que SC: o Paraná possui oito estações de monitoramento e o Rio Grande do Sul tem 13.

O IMA, que é o órgão que deveria acompanhar os números da qualidade do ar no Estado, afirma, em nota, que o instituto tem quatro iniciativas para começar o monitoramento. Uma delas, em parceria com a Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul), projeta instalar equipamentos homologados em Criciúma, Florianópolis, Joinville, Blumenau e Chapecó ainda este ano.

O laboratório do professor Leonardo Hoinaski tem uma parceria recém-firmada com a Secretaria de Desenvolvimento Social para investigar quais são as fontes emissoras de poluentes em Santa Catarina. Já se sabe quais os principais problemas de cada região, como a poluição veicular na Grande Florianópolis (a Capital, São José e Palhoça tinham uma frota de 617,6 mil veículos em julho). No Norte e no Vale, por exemplo, as emissões das indústrias também contribuem para o índice de poluição, lembrando que SC possui, de acordo com a Confederação Nacional da Indústria, o quinto maior parque industrial do país.

– Necessitamos de estudos que investiguem a qualidade do ar, que proponham um plano de gestão da qualidade a longo prazo, que resolva a situação. E também indique à população informações quanto ao ar que se respira – afirma Hoinaski.

Mesmo se os dados fossem colhidos e os números estivessem dentro do limite estipulado pelo governo federal, haveria um problema: a regra brasileira é defasada, foi definida em 1990 e não inclui a contagem de partículas mais finas de poluentes, levadas em conta por entidades internacionais. Aqui no Brasil, o limite anual – 50  µg/m3 (microgramas por metro cúbico – é mais do que o dobro do estipulado pela OMS, de 20 µg/m3.

Por fim, o professor Leonardo Hoinaski ressalta o risco da poluição atmosférica e, ao mesmo tempo, a necessidade da fiscalização.

– É um tipo de poluição invisível. Você realmente não sabe se aquele ar é de boa qualidade, mesmo suspeitando que seja. Então é necessário fazer a investigação – ressalta Hoinaski.

* Colaboraram Aramis Merki II e Mayara Vieira

 

Fonte: http://dc.clicrbs.com.br/sc/noticias/noticia/2018/08/poluicao-do-ar-solucoes-dependem-de-politicas-publicas-10535084.html