Diretor da Agência de Proteção Ambiental dos EUA anuncia conjunto de normas destinadas a estimular a produção de energia a partir do carvão

POR EDITORIAL

O diretor da Agência de Proteção ao Meio Ambiente dos EUA (EPA, na sigla em inglês), Scott Pruitt, anunciou na última terça-feira uma legislação destinada a repelir a ampla regulamentação do setor, destinada a reduzir os gases do efeito estufa nas usinas de energia do país. A medida foi especialmente desenhada para estimular o combalido setor carvoeiro, uma promessa de campanha de Trump, e deve gerar, segundo especialistas, reações na Justiça, em processos que prometem se arrastar anos a fio nas cortes americanas.

Trump, que nunca hesitou em proclamar seu ceticismo quanto ao impacto da ação humana no aquecimento global, avança no desmonte das políticas ambientais do país. A primeira medida foi a retirada dos EUA do tratado do clima — o chamado Acordo de Paris, que envolveu 195 nações no compromisso de manter o aquecimento médio global em dois graus centígrados neste século.

A própria escolha de Pruitt para dirigir a EPA, agência que já foi referência internacional na luta pelo meio ambiente, foi uma eloquente afirmação de mudança de rumo, já que ele combateu várias medidas da EPA na Justiça, quando foi procurador-geral do estado de Oklahoma, o que autoriza reputá-lo como um inimigo ideológico da luta contra o aquecimento global.

Analistas alertam que a estratégia ambiental de Trump é destituída de lógica e terá impacto econômico muito pior do que o desemprego que supostamente ele pretende evitar em setores industriais responsáveis por grandes emissões de CO2. Isto porque suas medidas desestimulam o processo de transição para energia limpa, que vários segmentos vêm fazendo, além de estimular que rivais, como a China, ocupem o vazio deixado pelos EUA neste campo.

Além de grande produtora de gases do efeito estufa, a indústria de carvão é altamente poluente, remetendo à era industrial do século XIX. Durante décadas, as cidades mais poluídas do mundo ficavam na China, que tinha no setor carvoeiro sua matriz energética. As partículas de carvão provocam doenças pulmonares graves, como asma, AVCs e ataques cardíacos, e a China foi, neste período, campeã em casos de câncer de pulmão. Portanto, não deixa de ser irônico que os papéis agora estejam se invertendo.

Ao anunciar as novas regras, Pruitt disse que o governo Trump “está comprometido em consertar os erros da gestão Obama” na área ambiental. A regulamentação do período do ex-presidente, batizado de “Plano de Energia Limpa”, visou a reduzir as emissões de carbono do setor elétrico em 32%, até 2030, tendo como base os níveis de 2005.

Executivos, cientistas e ambientalistas lamentam o retrocesso, afirmando que isso atrasará o desenvolvimento de tecnologias de energia limpa. Inconformadas, várias empresas, e alguns estados, inclusive a Califórnia, o mais rico dos EUA, decidiram, acertadamente, desafiar a política “verde” de Trump e manter as metas de redução de emissões.

Fonte: https://oglobo.globo.com/opiniao/novas-regras-ambientais-levam-eua-para-seculo-xix-21944315

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